terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A imbecilidade é invisível aos olhos.


Na véspera de Natal, uma prima me mandou uma apresentação em PowerPoint intitulada “Isso é que é amor!“. Eu abri, li, balancei a cabeça em desaprovação, e escrevi uma resposta bem educada para ela, no mesmo dia. Pois bem… Ela esperou o Espírito do Natal dobrar a esquina, em direção ao Polo Norte, e ontem me mandou um e-mail nada educado, sugerindo que eu enfiasse a minha opinião de ateu nos lugares dos mais impróprios… Eu não respondi, revidando, primeiro porque eu sou um gentleman, a fina flor do abacateiro; segundo porque ela sempre foi mesmo muito desbocada, desde criança…
A apresentação em slides começava assim:
Um dia, Jesus e o Diabo estavam conversando, e Jesus perguntou ao Diabo o que ele estava fazendo com as pessoas aqui na Terra.
O Diabo respondeu que estava se divertindo muito ensinando as pessoas a fazer bombas, a se divorciar, a estuprar criancinhas, o diabo a quatro!
Jesus perguntou: ‘E depois? O que vai fazer com elas?’.
E o Diabo: ‘Vou matá-las’.
Jesus: ‘Quanto você quer por elas?’.
Diabo: ‘Ah, Jesus… Você não vai querer esse povo! São pessoas traiçoeiras, mentirosas e falsas. Elas vão cuspir em você, vão te bater e não vão levar em conta nada do que você fizer por elas!’.
Jesus, então, insistiu: ‘Quanto você quer por elas, Diabo?’.
E o Diabo: ‘Eu quero toda a tua lágrima e todo o teu sangue’.
E Jesus: ‘Trato feito!’.
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O slide seguinte trazia a imagem de Jesus crucificado…
Isso é que é amor???
Por que Jesus, um Deus de amor, justo e bom, precisaria “fazer um trato” com um ser que era a personificação do mal? Por que Jesus, a terceira pessoa da Trindade que projetou, construiu e que governa todo o universo, teria que ceder às vontades e caprichos de uma entidade altamente prejudicial à sua Criação? Por que Jesus, que é a forma humana de um Deus onipotente, precisaria negociar o bem-estar, a felicidade, a vida terrena e a alma imortal dos filhos que tanto ama, com um Diabo infinitamente menos poderoso do que ele?
Se Jesus fosse o que os cristãos acham que é, ele deveria estar apto a dizer ao Diabo algo como:
“Olha, isso que você está fazendo com os seres humanos é inadmissível! Eu amo meus filhos e eles não estão à venda, nem foram concebidos para servir de brinquedo para você! Aliás, já estou cansado de você por aqui atrapalhando a vida deles. Eu te dou 3 bilionésimos de segundo pra você picar sua mula do meu universo, ou eu mesmo me encarrego de chutar sua bunda malévola para fora dele”.
Simples assim. Mas os cristãos não conseguem ver a imbecilidade que está incrustada no seu próprio mito sagrado: um Deus que pode tudo, não pode se livrar, ou conter, ou neutralizar as ações de um Diabo que, aparentemente, só existe para desafiá-lo.
Minha prima parece endossar esse raciocínio cristão tacanho, pelo qual Deus, o bom e todo-poderoso Criador, não faz nada contra o Diabo porque não é muito adepto de interferir nas ações dos seres que habitam o seu universo. Mas eu tenho toda uma Bíblia de razões para suspeitar que esse pensamento é tão imbecil quanto aquele que motivou alguém a dar um título de “Isso é que é amor!“ a uma história tão ridícula como essa.
Não, prima, o sacrifício de Cristo na cruz, feito para pagar esse suposto acordo com o Diabo, não é nem de longe uma demonstração de amor. É apenas uma evidência de que vocês, cristãos, não enxergam a imbecilidade por trás de cada raciocínio sem sentido, necessário para sustentar a sua fé em algo que não faz parte da realidade.

Publicado em 29/12/2011 por Valmidênio Barros - http://deusilusao.com/

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