terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Quando a Terra ficou sem gelo.


A imagem acima mostra o planeta Terra totalmente sem gelo. O nível do mar na foto está pelo menos 90 metros mais alto (bem diferente daquela porcaria de filme Waterworld, em que todo o planeta aparecia coberto de água) e mais de 10% da área terrestre aparece coberta. Interessante, né? Fica ainda mais interessante ainda quando souber que o planeta já esteve assim.


Sim. O planeta já ficou sem uma única partícula de gelo há mais de 56 milhões de anos e esse período durou 150.000 anos. Esse foi o Período Máximo Termal Paleoceno-Eoceno, cuja a sigla é PETM (do inglês Paleocene-Eocene Thermal Maximum). Esse aquecimento foi provocado por uma introdução massiva de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera provocando o conhecido efeito estufa. A quantidade teria sido a mesma que se o nós queimássemos toda a reserva de petróleo, carvão e gás natural do mundo. De acordo com o paleontólogo Philip Gingerich o PETM é uma idéia que foge de você e que leva centenas de milhares de anos para reequilibrar. É o que estamos fazendo.


Era sabido que o planeta passou por uma dramática mudança no período Paleoceno-Eoceno, mas os cientistas simplesmente achavam que umas espécies deram lugar as outras durante esse período. Mas em 1991 os oceanógrafos James Kennett e Lowell Stott perceberam algo estranho nos sedimentos extraído do fundo do Atlântico Sul próximo da Antártida. Eles analisaram os isótopos de carbono e viram que estava numa quantidade anormal, foi que perceberam que na transição Paleoceno-Eoceno uma mudança brusca na proporção de isótopos de carbono em foraminíferos (maldito português que ainda não tem abreviação para o nome desse ser esquisito como no inglês!). O que indica que uma imensa quantidade de carbono teria “inundado” (não encontrei outra palavra adequada para traduzir) o oceano nessa época (a formação dos continentes era completamente diferente da imagem).


Como explicar a origem de todo esse isótopos a 56 milhões de anos? Erupções vulcânicas poderiam cozinhar o dióxido de carbono depositado em sedimentos orgânicos no fundo do mar, mas não em tão pouco tempo, que no caso foi de apenas alguns séculos (geologicamente falando é um piscar de olhos). Também não há evidências de fuligem de incêndios florestais em massa que poderiam ter queimado turfas e muito menos de um impacto de algum bólido (asteróide, cometa, etc) contra rochas carbonáticas que poderia ter ajudado na emissão de tanto CO2. Então que diabos aconteceu?


A mais antiga e aceita hipótese é de que antigamente existia grandes depósitos de hidrato de metano, um tipo de gelo instável em que água cristalizada forma uma gaiola em torno de uma molécula de metano. Para quem não sabe o metano aquece a Terra 20 vezes mais por molécula do que o carbono. O poderia ter acontecido também é que o CO2 ao aquecer a Terra e, principalmente, os oceanos o metano acabou sendo liberado pelo hidrato em grande quantidade. Vulcões também poderiam ter aquecido jazidas de hidrato.


Essa hipótese começou a ser construída no início da década de 1990. Quando Paul Koch, da Instituição Carnegie e James Zachos estudaram sedimentos de um solo rico em carbonato no banco de Polecat (não. Não falo daquele banco onde guardamos dinheiro e nem naquele banco em que sentamos), próximo ao Parque de Yellowstone. A dupla ainda estudou os dentes de um mamífero chamado Phenacodus. Ao analisar os esmaltes dos dentes eles encontraram o mesmo pico de isótopos de carbono no foraminíferos. Ou seja, foi que viram que o efeito do super-aquecimento não se limitou a esses microscópicos seres e nem ao mar. Eles estimam que no Pólo Norte a temperatura tenha atingido 23,3º C (74º F), mas não encontrei dados do quanto a temperatura atingiu na linha do Equador (bom lembrar que a posição dos pólos não era como hoje).


Esses estudos mostram que a situação pode ser alarmante. Ainda existem grandes reservas de hidrato de metano no mundo (inclusive onde fica o Triângulo das Bermudas, eles pode fazer navios afundarem e até derrubar aviões) e eles podem ser liberados caso a temperatura dos oceanos aumente. Pois é sabido que hoje nós somos o grande responsável pelo excesso de CO2 na atmosfera. Podemos até ter retardado uma nova era glacial, mas podemos sobreviver a um super-aquecimento como o de 56 milhões de anos atrás? Assim como em qualquer grande mudança houve extinções, num novo evento como esse a nossa espécie pode ser uma das vítimas, e vítima de nós mesmos…

Fonte: http://www.nihillemos.net/2012/01/15/quando-a-terra-ficou-sem-gelo/

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