terça-feira, 24 de abril de 2012

A Religião é o ópio do povo.

"O fundamento da crítica irreligiosa é: o homem cria a religião; não é a religião que cria o homem. E a religião é, bem entendido, a autoconsciência e o auto-sentimento do  homem que ainda não é 
senhor de si mesmo ou que já voltou aperder-se (. ..) A religião é o soluço (o suspiro) da criatura oprimida, o coração deum mundo sem coração, o espírito de um estado de coisas carente de espírito. Areligião é o ópio do povo. A abolição da religião enquanto felicidade ilusória do povo é uma exigência que a felicidade real formula. Exigir que renuncie às ilusões acerca da sua situação é exigir que renuncie a uma situação que precisa de ilusões.A crítica da religião é pois, em germe, a crítica deste vale de lágrimas de que areligião é a auréola.»
Karl Marx

Marx considera que a religião é uma forma de alienação. Nela verifica-se a fractura entre o mundo concreto e um mundo ideal, entre o mundo em que o homem vive e o mundo em que ele desejaria viver. Por que razão surge esse mundo ideal? Marx diz que o mundo celeste é o resultado de um protesto da criatura oprimida contra o mundo em que vive e sofre. Ou seja, procura-se um refúgio no mundo divino porque o mundo em que o homem vive é desumano. Num mundo em que "o homem é o lobo do homem", não há "família humana", o homem não se sente neste mundo como em sua casa.
A procura de uma família celeste deve-se à perda da família terrestre, à separação do
homem do seu semelhante. São essencialmente as degradantes condições materiais de vida, a exploração do homem pelo homem, com o consequente desprezo pela vida humana, que levam o homem a sentir-se órfão na terra e a procurar um pai no céu.
O mundo religioso, o "Reino de Deus", não tem consistência própria, não é verdadeiramente real. É um "reflexo" de degradantes condições materiais de vida, da opressão da grande maioria dos homens por outros. É a "flor imaginária" que decora os grilhões que oprimem os explorados; é o "suspiro" de quem se vê degradado na sua humanidade, transformado em objecto e máquina produtiva que quanto mais enriquece os exploradores mais se empobrece a si mesmo. Segundo Marx, da religião o homem não pode esperar a sua libertação e emancipação. Ela é um "sintoma" da desumanidade do mundo dos homens e não o remédio para esse mal. Mais do que isso, ela é um "ópio", um produto tóxico, que entorpece, aliena e enfraquece porque a esperança de consolação e de prometida justiça no "outro mundo" transforma o explorado e oprimido num ser resignado, tende a afastá-lo da luta contra as causas reais do seu sofrimento.
Marx sempre considerou a religião como uma super - estrutura, i. e., uma dimensão que reflecte e é condicionada pela infra-estrutura de uma determinada sociedade, ou seja, pelo modo como se verificam as relações entre os homens no processo económico ou produtivo.
Nesse processo produtivo há uma classe dominante: aquela que detém apropriedade privada dos meios de produção (instrumentos, máquinas, fábricas, etc.) e que por isso submete ao seu poder aqueles que não podendo produzir por si mesmos a sua subsistência têm de vender a sua força de trabalho. A exploração do homem pelo homem tem a sua raiz no facto de a propriedade dos meios que permitem produzir e assegurar a subsistência ser privada e não social, i. e., de alguns e não de todos. Ora, segundo Marx, as ideias dominantes (religiosas, filosóficas, morais, etc.) são o reflexo ou, pelo menos, são condicionadas pelos interesses económicos da classe materialmente dominante. Assim, a religião é um instrumento que, apesar de apelar à benevolência dos poderosos, ao apresentar o Céu como lugar da justiça e da compensação, justifica o estado de coisas existentes, o domínio de uma classe sobre outra. A ilusão de um mundo transcendente e justo serve para que as injustiças se perpetuem na sociedade humana. Por isso, segundo Marx, não basta criticar a religião: é preciso não só criticar a raiz material (a alienação do trabalho, a exploração económica) da alienação religiosa, como também eliminar revolucionariamente as condições de miséria terrestre das quais deriva a necessidade do "mundo celeste".
Atacar directamente a miséria terrestre (a alienação económica) é destruir indirectamente a necessidade do mundo celeste.

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