terça-feira, 6 de março de 2012

A escravidão continua, em outros tempos, de outra forma.

Foi a visão vanguardista de uns poucos que mudou esse paradigma. Foi necessário muito tempo, trabalho duro, disputas e mortes, para quebrar a tradição que se perpetuara desde os tempos bíblicos. Não me é difícil imaginar o teor crítico e indignado das conversas dos senhores escravocratas por ocasião do florescimento do movimento de libertação. Posso imagina-los indagando como alguém poderia querer por fim a uma tradição tão natural e até mesmo abençoada por Deus nas escrituras. Entretanto o tempo mostrou que a prática da escravidão, embora ensinada e recomendada mesmo na Bíblia, não se sustentava por argumentos que justificassem tamanha crueldade e que uma pequena minoria de pensadores, em avanço ao seu próprio tempo, foi capaz de fazer uso da razão pondo abaixo a tradição e o dogma.
Num passado recente, escravizar pessoas era uma prática considerada normal. Qualquer pessoa livre, que tivesse condições financeiras para comprar e manter escravos, estaria autorizada a possuí-los. Os escravos eram considerados um bem, uma posse, uma mercadoria que agregava valor a uma propriedade. Por isso era perfeitamente normal querer tê-los. Quanto mais escravos um senhor possuísse, mais respeitado, admirado e invejado ele seria. Por milhares de anos, escravizar seres humanos foi uma tradição incentivada e passada de pai para filho.

Foi graças àquela pequena minoria destoante, àquela gente que ousava questionar o modelo vigente, àquelas pessoas que não tinham a mente acorrentada a crenças primitivas e infundadas, gente que olhava a questão através de diferentes ângulos e se recusava a agir como um rebanho de ovelhas, seguindo segamente seu pastor, que a escravidão passou a ser vista como uma prática intolerável. Esse é um bom exemplo para mostrar que o simples fato de que uma maioria esmagadora acredite ou aceite um determinado conceito ou costume como sendo natural, não significa que tal costume ou prática tenha de ser aceito como sendo ética e moralmente justificável. Não importa o quão melhor possa passar a ser a vida de um escravo em comparação à miseria que se lhe abatia quando vivia livre, ninguém deve ter o direito de escravizar ninguém.


Porém se a escravidão física é hoje considerada um crime hediondo e repugnante aos olhos de todos, a escravidão da mente é paradoxalmente vista como sendo algo nobre, recomendável e estimulado. Incentivar as pessoas a se comportarem e a se submeterem a um código moral escrito por povos primitivos da Idade do Bronze ou da Idade Média é hoje tão largamente aceito e incentivado quanto fôra a escravidão da mão de obra até o final do século XIX. As pessoas são pressionadas e bombardeadas, desde a sua mais tenra infância,  com argumentos em favor da fé e a fé, nada mais é que aceitar como sendo verdade tudo o que uma autoridade diz sem apresentar evidencias verificáveis que justifiquem aquilo o que está sendo dito. Em outras palavras, “a fé é aquilo que te faz crer em coisas que a tua própria inteligência rejeita”. (Luiz Fernando Veríssimo).
A religião prega claramente que não se deve duvidar. Ela ensina que a virtude está justamente em aceitar sem questionar e quando tenta passar a idéia de que, sim, devemos questionar o mundo, a prática contradiz seu discurso. A função do Pastor é justamente guiar as ovelhas e mantê-las submissas. Onde todos pensam igual, ninguém pensa muito. Fé não é virtude, é ingenuidade! Não ensine seu filho a ser uma “Maria vai com as outras”.
Os Livres Pensadores, tal qual os abolicionistas de outrora, têm uma enorme batalha pela frente. Libertar mentes incentivando-as a pensar por sim mesmas. Criticar o status quo, baseando-se na razão e no suporte das evidencias. A luta será grande pois os escravocratas não vão querer largar o osso. Sejam vocês os senhores das suas mentes, tomem às mão as rédias das vidas e notem que uma mentira, ainda que repetida um milhão de vezes, por um bilhão de pessoas, não deixa de ser uma mentira.

Autor: Jeronimo Freitas
Título original: A Escravidão da Mente
Fonte: http://livrespensadores.org/artigos/a-escravidao-da-mente/?utm_source=twitterfeed&utm_medium=facebook

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