Fonte : http://www.divinamagia.com.br/
Os diálogos entre um ateu – Assis Utsch* – e uma luterana – Gudrun Pfeiffer**
1. Gudrun Pfeiffer: Você sempre foi ateu?
1. Assis Utsch: Certamente não; todos nós recebemos um Deus desde o colo da mãe e O conservamos ao longo da infância, adolescência e idade adulta. Esse Deus se mantém através da família, da escola, igreja, comunidade e por toda a sociedade.
2. Então o que o levou a tornar-se ateu?
2. Muitas razões; primeiro, comecei a fazer perguntas sobre minha própria crença. Ao longo dos anos, além de achar as doutrinas religiosas muito parecidas com as mitologias, muita coisa me pareceu simplesmente absurda.
3. Que tipo de perguntas você se fazia?
3. Dezenas, por exemplo: Será que Deus é um Ente real? não seria Ele apenas um conceito? não seria Ele uma invenção de homens primitivos conservada pelo homem moderno por razões de conveniência? Os livros santos são a fonte da verdade ou eles são apenas mitologias, lendas e fábulas milenares? ...
4. Que significam as religiões para você?
4. As religiões são apenas superstições mais elaboradas; todas elas buscaram uma pretensa sofisticação doutrinária com o intuito de se fazerem respeitadas.
5. Ocorre que nós temos o mundo, e se tudo precisa de uma causa, quem criou o Universo?
5. Se você admitir que o Universo foi criado de um Nada por um Criador, sua hipótese se choca com a Lei da Conservação da Matéria – nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Segundo essa Lei, que é verificável, e que não foi revogada por qualquer outra lei da física, o Universo só pode ser Eterno. E ele teve e terá toda a eternidade para processar suas transformações, todas elas imanentes, inerentes a ele mesmo.
6. Mas a ideia de um Universo Eterno está sujeita a questionamentos talvez até maiores que a ideia de um Deus Eterno.
6. O Universo está aí, e ninguém pode negá-lo; já o Deus é produto da fé.
7. E o Big Bang?
7. Sobre o Big Bang o cosmólogo brasileiro Mário Novello publicou na França um livro – Teoria do Universo Eterno. Em outro livro – O Que é Cosmologia – ele diz: “por que os cientistas deixaram que os meios de comunicação de todo o mundo propagassem uma versão fantástica e errônea: a de que eles, cientistas, teriam demonstrado que o Universo teve um momento único de criação há uns poucos bilhões de anos(?)”. “...longe de podermos tratar aquele momento como um “começo”, ali estariam ocorrendo complexos processos (contínuos) ...”.
8. Então a Teoria do Big Bang não é uma unanimidade?
8. A ideia do Big Bang nasceu da observação de que o Universo está se alargando, expansão que cessaria a partir da dissipação de sua força primordial. Ocorre que descobriram depois que ao invés de conter-se, sua velocidade de expansão está aumentando. Atribuiu-se então o aumento da expansão a uma nova força do Universo, a energia escura. (Existiria também a matéria escura). Há uma tentativa de provar o Big Bang através do LHC – o Acelerador de Partículas de Genebra, um projeto de dez bilhões de dólares. Com tanto dinheiro envolvido, será difícil dizer depois que a causa – o bóson de Higgs – não foi encontrada, ainda que o projeto envolva muitos outros experimentos científicos.
9. Embora a maioria dos cientistas, pensadores e filósofos pendam para o ateísmo, muitos deles são religiosos...
9. Mas estes que são religiosos não o são porque sua ciência ou sua sabedoria tenha provado seu Deus. Eles são crentes graças, mais uma vez, à herança do Deus vindo da família, da cultura, da doutrinação, das tradições; eles podem também ter suas compulsões, suas idiossincrasias, seu autoengano. Podem simplesmente achar que Deus é um Ente necessário; achar, graças a seus condicionamentos interiores, que é impossível Deus não existir.
10. Mas a ciência prova que Deus não existe? ...
10. Ora, quando nos tornamos Homo sapiens sapiens, logo nossos primeiros medos e angústias nos obrigaram a buscar uma Proteção. Então começamos a criar as primeiras divindades, os fetiches, os totens, os xamãs, ou seus equivalentes, tudo para nos proteger; então, ao contrário de provar que ele não existe, prova-se que ele foi criado; Deus é apenas um conceito.
11. Mas qual é a prova de que se trata de uma criação mitológica?
11. Se as religiões pertencem à mesma natureza das mitologias, a antropologia pode confirmar tal criação. O estudo comparativo entre religiões e mitologias documenta a invenção dos deuses; pouco importa que eles tenham se transformado no Deus Único; mas existem ainda muitas sociedades politeístas.
12. Mas os livros santos não são a prova de Deus?
12. Os livros santos de todos os credos são resultado de milênios de narrativas; primeiro orais, depois escritas em línguas primitivas, sem qualquer precisão, textos com registros precaríssimos, escritos em folhas, pedras, couros, etc, com todos os percalços, e sujeitos àquela regra – quem conta um conto lhe acrescenta um ponto. Os registros factuais desses livros são apenas residuais.
13. Você acha que não temos uma alma, um espírito, uma transcendência?
13. Esse é o nosso sonho, é a nossa grande aspiração. Todos esses conceitos são produto de nossa inconformidade com a finitude da vida; a morte é insuportável. Então inventamos uma transcendência como forma de aplacar o tormento.
14. A ideia da transcendência não é vantajosa?
14. O fato de a ideia ser eventualmente vantajosa não lhe confere a qualidade de verdadeira.
15. E o sentido da vida, você não acha que sem uma transcendência nossa vida fica sem sentido?
15. Que sentido é esse, construído sobre uma base mística? Muitas coisas dão sentido a nossa vida, nós precisamos de causas, projetos, ações; precisamos de solidariedade, tolerância, conhecimento; precisamos compreender que quanto mais harmônica for a convivência humana, melhor será para todos; compreender também que o fato de buscarmos os melhores valores não nos isentará dos conflitos, pois eles são inerentes à condição humana.
16. Mas nossos valores não precisam de um Deus para se solidificarem?
16. Primeiro, os valores terrenos podem ter uma solidez até maior, porque oriundos da compreensão de que eles são necessários para a boa convivência humana. Por outro lado, os valores vindos de um Deus são sempre dogmáticos. E sem o dogma as crenças se dissipam; é por isso que todas elas são dogmáticas. Mas todo dogma – religioso, político, ou de qualquer natureza – é devastador; ele mata dezenas de milhões, e sem o sentimento da culpa.
17. As religiões não têm nada de positivo?
17. Tudo nas religiões que coincidir com o humanismo é positivo. Todo o resto é superstição, mistificação, rituais, crendices, alienação, dogma, intolerância, a mesma intolerância que gerou as Cruzadas, a Inquisição, as Guerras Papais, a Guerra dos Trinta Anos – entre católicos e protestantes – os milhares de conflitos religiosos ao logo de decênios, séculos e milênios, inclusive em nossos tempos; gerou o obscurantismo, a desestruturação dos sistemas de produção, os flagelos resultantes e outros males; e sacrificou dezenas de milhões em nome de seu Deus.
18. Você não acha que elas pregam mais o bem do que o mal?
18. O bem decorrente do Iluminismo ou do Humanismo é muito maior, porque eles não precisam de dogmas. Como já disse, todas as ideologias dogmáticas são devastadoras. Seus seguidores, ao agirem em nome de um Deus ou de um dogma, não sentem qualquer culpa pelos horrores que façam. É verdade que os cristãos se aquietaram, com exceção das ocorrências em alguns poucos lugares, mas outras religiões continuam aterrorizando. Se conseguíssemos afastar os Deuses no Oriente, a paz na região teria uma chance.
19. Os valores essenciais defendidos por ateus e religiosos são os mesmos. E os religiosos até dizem que eles foram tomados das religiões e adotados pelos ateus. O que você diz sobre isso?
19. Se as religiões fossem construídas apenas de superstições elas seriam facilmente desmascaradas. Então elas tiveram que construir ou incorporar um conjunto de valores. Na verdade, nesse aspecto as religiões e o Iluminismo se influenciaram mutuamente.
20. As religiões – judaísmo, cristianismo, islamismo, hinduísmo, budismo, etc – representam a diversidade cultural do mundo.
20. A diversidade cultural existiria independente das religiões; além disso a diversidade decorrente da religião, conforme já dito, é fonte dos piores conflitos – milenares e contemporâneos – como se tem visto em vários lugares.
21. O que mais lhe parece estranho nas religiões?
21. No caso particular dos três monoteísmos, o ódio ao sexo, o ódio às mulheres, aos negociantes, aos ricos, aos sábios, à liberdade, e também o culto à pobreza, à servidão, à resignação, à penitência, ao sofrimento. Embora as seitas protestantes e o judaísmo celebrem as riquezas e repudiem a pobreza, elas entretanto guardam as demais inconsistências da fé. Além das estranhezas de seus dogmas e de suas questões teológicas.
22. Que dogmas, que questões teológicas?
22. Todas as religiões são muito estranhas. No cristianismo ou no catolicismo, tem-se a crença de que teria nascido um homem-Deus; que Ele teria nascido de uma mulher virgem, apesar de seus outros filhos; que este homem-Deus teria sido crucificado sem culpa, só para nos salvar de uma suposta culpa original; que este homem-Deus teria ressuscitado; que uma Trindade de Seres distintos seria ao mesmo tempo um Deus único; a crença de que seus fetiches são sagrados; mais os seus rituais, seus tabus, além de uma profusão de outras superstições conhecidas.
23. Você então não acredita em Jesus Cristo?
23. Se um homem chamado Jesus Cristo existiu, ele não teve nenhuma identidade com o que se diz ou se escreveu a respeito dele. Digo ‘se existiu’ porque vários pensadores afirmam que Cristo é um personagem inventado por místicos; ele não é uma figura da História. Ele seria um personagem criado por místicos que começaram a dizer que na Palestina havia nascido um Messias que viria salvar a humanidade de todos os seus tormentos; aflições que curiosamente nunca cessaram. Os judeus ortodoxos aliás ainda continuam esperando seu Messias. E no entanto o Messias não vem nem vai telefonar.
24. Cristo não aparece em outros livros antigos?
24. Ele aparece como Profeta no Corão dos muçulmanos, que é um livro do sétimo século, e também no Talmude dos judeus, que é do quarto século. Ora, quando esses livros surgiram o mito do Messias ou do Cristo já estava estabelecido ao longo dos séculos anteriores. Então, é muito natural que um Cristo apareça nesses textos.
25. Se as religiões são tão vulneráveis para você, o que as levou a se perpetuarem?
25. Já foi observado que quanto mais inverossímil é uma crença, maior é a compulsão de seus crentes. Por outro lado, as religiões criaram muitas estratégias: achar-se sagrada; achar-se portadora de toda a verdade; colocar-se num altar e ficar imune a qualquer pergunta ou questionamento; achar-se digna de uma reverência superior; etc; além da sua doutrinação constante.
26. Por que elas são tão sedutoras?
26. Porque diante da morte, que é nosso maior tormento, seus líderes prometem o que mais desejaríamos: que temos uma alma ou espírito para perpetuar nossa existência; ou que ressuscitaremos após a morte; que reencontraremos num céu os entes queridos que perdemos; que somos contemplados com a bondade infinita de um Deus; além de muitas outras promessas. Por outro lado, as religiões são fonte de poder e de dinheiro para seus líderes, na medida em que eles controlam milhões de pessoas.
27. Que mais o leva a imaginar que tudo é uma invenção nossa?
27. Além de criarem as divindades, depois um Deus, inventaram também o paraíso, o inferno, demônios, profetas, anjos, santos; inventaram a revelação, a salvação, a condenação, o sagrado, o amaldiçoado, o abençoado, etc; forjaram o Manto do Sudário, os Milagres, as Aparições, etc. No caso dos milagres, observamos que mesmo quando uma pessoa ‘prova’ sua ocorrência, na verdade essa ‘prova’ é apenas o autoengano ou a ilusão da pessoa. Pois milagre, enquanto acontecimento que contraria as leis da natureza ou das possibilidades não ocorre; trata-se de uma palavra criada para algo aparentemente impossível. Atrás de todo milagre está o autoengano, ou a coincidência, ou a fraude ou coisa parecida.
28. Você nunca se impressionou com as mensagens dos livros santos?
28. Os livros santos têm muita coisa – ordens para o bem e para o mal – todo tipo de atrocidades, genocídios, crueldades, escravidão, perseguição, intolerância, matança, incesto, etc. Não existe outra peça escrita ao mesmo tempo tão volumosa e tão cheia de contradições quanto à Bíblia, incluindo-se naturalmente o Novo Testamento, que por sinal incorporou o Velho como parte integrante da Mensagem Cristã. Semelhantes contradições podem ser encontradas também no Corão. E as ordens para o bem não vêm de um Deus, são todas coisas do homem
29. Então você leu a Bíblia?
29. Não só a Bíblia – Velho e Novo Testamento – como o Corão e longos fragmentos dos Vedas e do Zendavesta (ou Avesta). E uma boa coleção de livros ateístas.
30. Quais livros ateístas?
30. Desde os livros de Nietzsche – Crepúsculo dos Ídolos, Assim Falou Zaratustra e longos trechos de outras obras suas; trechos de Feuerbach; o livro de Bertrand Russell (Por Que Não Sou Cristão); o Carta a Uma Nação Cristã (Sam Harris); o Deus Não É Grande (Christopher Hitchens); o Deus, Um Delírio (Richard Dawkins); o Tratado de Ateologia (Michel Onfray); Aprender a Viver (Luc Ferry); O Espírito do Ateísmo (Comte-Sponville) e outros.
31. As estranhezas que você encontra nos livros santos não decorreriam de uma leitura literalista do texto?
31. Os teólogos e pensadores cristãos criaram a tradição de reclamar uma leitura simbólica e também relativista desses livros. Alegam, dentre outras coisas, que tendo sido escritos naquele contexto, em outros momentos da civilização, essas obras sempre precisariam submeter-se ao crivo da hermenêutica ou da exegese.
32. Eles então têm razão?
32. Ora, se alguém ardilosamente extrai uma frase ou um pedaço dela para afirmar coisas que o contexto da sentença não diz, trata-se de uma fraude. Mas quando citamos um versículo que é autoexplicável, que diz exatamente o que todo o trecho declara, e lhe damos a mesma interpretação que ele expressa, então não cabe falar de erro de interpretação. E não adianta alegar interpretação fundamentalista, ou que a exegese ou o simbolismo não foram observados. Na verdade, essas alegações visam apenas a escamotear os milhares de absurdos e contradições desses livros, escritos a partir de eras muito assustadiças. Horrores que não foram aplacados nem com a pretensa linguagem rebuscada que lhe foram imprimindo, quando sofreram milhões de alterações, supressões, adições, reinterpretações.
33. Se os ateus sabem que nenhum argumento da razão convence um crente, por que insistir?
33. Quem faz proselitismo de seu Deus, vinte e quatro horas por dia, são os líderes religiosos e seus colaboradores; eles nos abordam por toda parte tentando nos vender seu Deus. Ateu não aborda qualquer pessoa para convencê-la a abandonar o Transcendente e adotar apenas o Humanismo. Até porque ser ateu é trabalhoso, é preciso antes conhecer não só os muitos argumentos ateístas em profundidade, como também os próprios livros santos e até um pouco de teologia. A dominação por parte das crenças é tão avassaladora que se o ateu não tiver um bom suporte, ele pode sucumbir-se às alegações religiosas.
34. Não precisaríamos de um Deus para sermos éticos?
34. Será que precisamos de um Deus para achar que é importante ter solidariedade pelos outros, ter preocupação com o sofrimento das pessoas e até dos animais, ser honesto, ser responsável, reconhecer a dignidade de cada um? Será que precisamos de um Deus para achar que é errado matar, furtar, roubar, violentar, torturar, estuprar, etc? Por outro lado, segundo pesquisas nas prisões, 100% dos homicidas acreditam em um Deus.
35. Você disse que ateu não aborda as pessoas para convencê-las, mas muitos ateus – Dawkins, Sam Harris, Christopher Hitchens, Michel Onfray e outros – são acusados de militantes.
35. Quando um crente de qualquer credo tenta me converter ao seu Deus, ele não o faz pelo meu bem; ele quer duas coisas principais: impor-me suas convicções religiosas e obter também minha colaboração pessoal ou financeira. Quando alguém procura convencer os demais de suas convicções – religiosas, políticas, ou outras – o que se tem é o ‘desejo de reconhecimento’ de seus valores; é a ‘luta pelo reconhecimento’, que é própria dos indivíduos em qualquer sociedade. Semelhantemente, o ateu está sujeito também à ‘luta pelo reconhecimento’ de suas convicções, porque isto é da natureza humana.
36. Muitos teólogos são verdadeiros doutores...
36. O fato de serem doutos não os exclui de suas compulsões pelo Transcendente, de suas idiossincrasias, de seu autoengano ou de suas ilusões. Repetindo o personagem daquele livro, ‘ninguém é mais doutrinado do que o próprio doutrinador’.
37. E as provas de Deus?
37. As provas de Deus não são provas, são alegações. Desde as de Santo Anselmo, Tomás de Aquino, Malebranche, Descartes, Newton, Locke, Clark e outros, todas foram desmoralizadas. Três principais – a prova ontológica, a prova cosmológica e a prova físico-teológica – estão muito bem resumidas e contestadas por Comte-Sponville em O Espírito do Ateísmo.
38. O que dizem essas provas?
38. a ontológica – a prova a priori – nada toma da experiência. Como diz Comte-Sponville, ela “nada mais é que a convicção de que Deus existe”; ela “é objeto de fé, não de saber”;
a cosmológica – a prova a posteriori – parte da existência do Mundo. O ser contingente, o Universo, precisaria de um Ser necessário, um Deus. À parte o fato de que o ser necessário é o próprio Universo, o que nos provaria que este Universo teve um Criador? ou que este criador seja um Deus, um Espírito, um Sujeito, uma Pessoa ou as Três (da Trindade)? – pergunta o autor francês;
a físico-teológica – também a posteriori – parte da observação do mundo. “O mundo seria ... belo demais, harmonioso demais para que possa ser obra do acaso; ... suporia uma inteligência criadora e ordenadora que só pode ser Deus”. Entretanto, como explicar “que os tumores ou os cataclismos decorram de um desenho inteligente e benevolente?”.
Sobre essa ‘prova’ Richard Dawkins diz que ao invés de pensarmos em um Projetista, é muito mais lógico pensarmos que só estamos aqui porque o arranjo cosmológico aleatoriamente estabelecido permitiu que moléculas pré-biológicas se tornassem biológicas.
39. E as vantagens emocionais ou psicológicas da crença no amparo de Deus?
39. Se podemos contar com os profissionais da área – os psicólogos, os psiquiatras e outros – para nos aliviar os problemas interiores, por que não recorrermos a esses, ao invés do recurso às superstições?
40. O apelo que todos fazem a Deus num momento de horror não é uma prova da Divindade?
40. Isto prova exatamente que Deus é produto do medo, das angústias, de nossas fragilidades. Se você está condicionado, desde criança, a evocar um Deus nas horas de aflição, quando adulto você automaticamente fará o mesmo diante do perigo. Quando realizamos algo que está no limite ou acima de nossa capacidade costumamos também atribuir o feito a Ele. A ideia de Deus tornou-se um hábito, um vício da imaginação.
41. O que você diz do alegado livre arbítrio assegurado por Deus?
41. Ora, livre arbítrio pressupõe liberdade, justo o que esse Deus menos concede, pois Ele é cheio de proibições. Ademais, os atributos de Deus – onipotência, onisciência, onipresença, bondade infinita, infalibilidade, imutabilidade, infinitude, perfeição, etc – são incompatíveis com o livre arbítrio, conforme já me referi em outro lugar. Mas sem tais atributos, o conceito de Deus se dissipa por inteiro.
42. Você tem algum ressentimento com relação aos religiosos?
42. Certamente não; tenho bastante tolerância e compreensão da religiosidade das pessoas. Até porque cresci numa família religiosa, e sei de todos os condicionamentos que nos predispõem à crença. Todavia, tenho certa reserva com relação aos líderes religiosos, pois, tanto quanto a busca pelo seu Deus, eles perseguem sobretudo o poder e o dinheiro, apesar de gostarem de falar de humildade.
(*) Além de O Garoto Que Queria Ser Deus (2010), Assis Utsch publicou Memória de Uma Agenda (2008), As Raízes de Deus (2008), O Pastor Rebelde (2006), O Brasil e os Brasileiros (2003), Dom Juan Por Acaso / Ela Chegou Pelo Jornal (1996), dentre outros textos.
(**) Gudrun Pfeiffer – professora de línguas germânicas (UFPR).
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