É fato costumeiro em discussões sobre religião - quando isso é possível - o espanto proporcionado quando explicitamos que a falta do deus não afeta nossa vida, quando expomos que apenas fazemos parte mortal-como ser-do universo, ou apenas pedaços que não tem sua proteção, apadrinhamento. Nossa vida nada mas é que a vida de um cão, uma barata, um besouro – nascemos, vivemos e morremos, sem muita vantagem a não ser compreender a própria morte! Quando as pessoas resolvem, por um momento, aceitar a proposição, ficam desnorteadas, aflitas: “Então a vida não faz sentido assim! Não podemos apenas viver e morrer! Há de existir algo a mais!”. Já nos acostumamos a reações dessa natureza. Já compreendemos que a vida não precisa ser uma novela com final feliz e que somos os mocinhos protegidos.
As pessoas não querem morrer, não querem ser frutos do acaso. Querem ser o centro do Universo, das atenções e com um Ser poderoso as vigiando. Enganar-se faz bem aos seus egos, mas que só mostra que não são tão fortes assim, porque a necessidade de um deus já é uma fraqueza. Ao adotar essa “Força Superior” estariam desejando fugir da simplicidade e “crudelidade” indiferente da vida, do universo.
Sempre quando alguém me pergunta sobre minhas convicções religiosas, mostro que os deuses das “lacunas” não são necessários e que a vida não precisa ser um romance com final feliz. Até mesmo no decorrer dela possíveis reveses e sortes vão surgir de forma aleatória. Ninguém deseja ter uma doença grave, mas nenhum deus nos livra, ninguém quer nascer cego, mas nasce mesmo assim. Tantas doenças incuráveis existem ainda! Eu poderia nascer rico ou pobre, ou aleijado, ou morrer em tenra idade, nascer siamês. Tudo é possível. Então, não há uma regra definida sobre isso e nos resta viver a vida como ela própria nos presenteou e como humanos valorizando todos e os tornando iguais: seres pensantes, viventes e mortais!
Numa certa ocasião, uma moça me chamou atenção para o que sengundo ela era presente de deus: a vida, o ar, o mar, dizendo que o seu deus deu tudo isso para eu viver. O problema é provar que deus tem uma fábrica de universos, de vidas, de mares, aí a coisa enrola, porque fazem uma afirmação para em seguida dizer que tem fé nisso! Engraçado, eu faria a mesma afirmação de que foi o Sapo-doido-voador quem me deu tudo isso! Esqueceu, a referida, quem deu as doenças, as bactérias, a morte, a injustiça, maldade e por aí vai. Eu preferia que não me desse nada! Seria melhor, mas viemos de homens, de matéria e do universo, que sempre existiu e sempre existirá, pulsante ou não. Ele é o nosso deus, mas que não está nem aí para nossa vida sexual, nem se morremos ou nos transformamos.
Fazer estas colocações já são dífíceis por parecer trágico, mas a vida não nos revela tão cheia de surpresas indiferentes aos nosso desejo? Anos de exploração com explicações bonitas, os colocando no centro e dada uma proteção inacreditavelmente sonhada, deixou o povo impossibilitado de questionar a realidade em que vive.
Matar um deus, que soa tão perfeito, acalentador das dificuldade, amenizador das vicissitudes, o pai o herói, não é tarefa muito fácil. Retirar toda a proteção, assim sem dar nada em troca só deve soar como loucura dos ateus. No entanto, mas uma vez não propomos troca quando falamos da realidade, no máximo mostramos que a liberdade faz bem e que a humanidade pode se ajudar, em detrimento de deuses loucos e inexistentes.
Fazer passar o efeito da droga das religiões é necessário uma clínica de recuperação poderosa, mas quando nos abstemos da sua prática, jamais voltamos a nos inebriar com idiotices dessa natureza. Daí tiramos que é difícil existir Ex-ateu. É um caminho sem volta, mas o caminho que nos faz melhor, por nós mesmos sem um guru, ou protetor por trás disso.
Fonte: Deusilusão Publicado em 05/05/2011 por saracura2
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