É curioso como muitos ainda se assustam quando eu falo que Deus não
existe como uma afirmação. Considerando que sou ateu, isso não deveria
causar espanto, mas muitas pessoas, possivelmente mais intelectuais que
eu, não acham certo afirmar tal coisa. “Não há como provar que Deus
existe”, diz o moderado, “assim como não dá para provar que Deus não
existe”. Acontece que eu não gosto desse pé atrás filosófico. Se isso
funciona para vocês, tudo bem, mas eu não vou ficar em cima do muro
sobre uma questão que eu considero tão abstrata e insignificante.
Eu sou ateu há muitos anos e nunca evoluí para o estágio de
agnosticismo. Coloco isso nesses termos porque muitos consideram o
agnosticismo muito mais refletido e sensato que o ateísmo. Eu algum
momento da minha vida eu posso já ter concordado com essa consideração,
mas eu não me lembro de já ter aceitado o convite de um agnóstico para o
seu templo de neutralidade. Eu não sou neutro sobre a existência de
Deus. Sou negativo. Isso me faz perder a oportunidade de parecer muito
mais culto, mas eu não considero certo dar o benefício da dúvida a uma
invenção insidiosa para a qual nunca foram apresentadas evidências.
A impossibilidade de descarte definitivo é válida para qualquer ser
fantasioso, seja ele tirado da cabeça inocente de uma criança pequena ou
da mente perturbada de um velho louco. Nós não temos conhecimento sobre
que tipo de criatura pode habitar planetas distantes ou mesmo outras
dimensões. Esses argumentos são graciosamente usados para defender que a
existência de Deus é possível, mas ao mesmo tempo que considerar essa
possibilidade é visto como uma postura nobre, considerar a possibilidade
de que existe uma salamandra de fogo no núcleo da via láctea é
criancice. Por que ainda existe gente que considera esse jogo filosófico
algo importante?
Já faz muito tempo que não levo a questão da existência de Deus a sério.
Para mim isso continua como uma questão descartada, pois em 25 anos
nunca me apresentaram sequer o reflexo da sombra de uma evidência que me
fizesse considerar digno de nota a possível existência de Deus. Pode
parecer a postura de um tolo, mas é a única com a qual eu me sinto à
vontade.
Fonte: monólogos com Deus